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jornal da USP - Havia essa matéria sobre Bulling

 




Pesquisa cria ações de enfrentamento ao bullying em escolas públicas de São Paulo

Trabalho que teve a participação do Instituto de Psicologia (IP) da USP objetivou compreender e desenvolver técnicas de enfrentamento da violência escolar, preconceito e discriminação

  Publicado: 13/08/2025 às 19:11

Texto: Marcos Santos

Arte: Daniela Gonçalves**

Estudo durou quatro anos, entre agosto de 2021 e julho de 2025

Ilustração: Freepik


O Instituto de Psicologia (IP) da USP, a Faculdade de Educação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o Instituto Singularidades investigaram as formas de violência escolar incluindo bullying, preconceito e discriminação em escolas públicas do estado de São Paulo. O estudo intitulado Ações de enfrentamento ao bullying e a discriminação na escola pública, foi conduzido ao longo de quatro anos, de agosto de 2021 a julho de 2025, e teve como objetivo desenvolver técnicas eficazes para combater essas formas de violência.


O trabalho contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e foi realizado em três escolas do Estado de São Paulo, duas estaduais e uma municipal. A pesquisa, além de entrevistas com os alunos, ouviu também membros da direção para conhecer o grau de inclusão escolar e a forma que elas combatem a violência no seu dia a dia. Professores também foram ouvidos para saber se eles lembravam de algum episódio de bullying, quem eram os autores e vítimas e se tinham a percepção do porquê isso estava acontecendo.



A coordenação geral da pesquisa esteve a cargo do professor José Leon Crochick, do Laboratório de Estudo sobre Preconceito (Laep), do IP-USP. Segundo o docente, pesquisas de meta-análises que mediram vários estudos sobre violência escolar e seu enfrentamento ao redor do mundo, apresentaram uma diminuição de 35% em relação às vítimas e 25% quanto aos agressores em 2025. No entanto, o pesquisador ressalta que essa diminuição ainda é pequena. “Qualquer diminuição na violência é algo que a gente tem de comemorar, porém, ainda é insuficiente. O importante é que cada escola, que conheça suas peculiaridades, alunos, professores e funcionários possa fazer um plano para melhor combater a violência”, diz Crochick.


Para realização da pesquisa foram aplicados questionários para alunos de uma classe do 6º ao 9º ano em cada uma das escolas participantes. Os estudantes se autoavaliaram nas disciplinas português, ciência, geografia, educação e física. Eles também responderam o que era para eles a prática do bullying, quanto à popularidade positiva ou negativa, se agrediram ou eram agredidos, o quanto eram queridos ou temidos por seus colegas, se eram convidados para ir à casa de colegas, se brincavam no recreio e se faziam lição junto com amigos, entre outras questões.


 


Bullying e discriminação

Conforme Crochick, os resultados mostraram também que do sexto ao nono ano, no período de 2021 a 2025, houve uma tendência de diminuição do bullying e de maus-tratos, enquanto foi verificado um aumento da discriminação frente a alvos frágeis e também hostis. “A nossa hipótese é que isso ocorreu porque o bullying e os maus tratos são ações mais imediatas, enquanto a discriminação é uma ação mais elaborada e sutil, mais propícia a alunos mais velhos”, declara o professor.


Buscando o desenvolvimento da pesquisa foram realizadas ações para reduzir a violência escolar. Para professores, coordenadores e diretores foram realizadas discussões de livros sobre violência escolar, bullying, autoridade, educação inclusiva e a discussão sobre o grau de inclusão das escolas participantes, e analisadas as respostas de alguns professores sobre a violência escolar durante as entrevistas.

Já para os alunos, foram aplicadas escalas para avaliar o desempenho escolar, bullying, discriminação e autoritarismo seguidas de discussões sobre resultados.


Apoio pedagógico

A pesquisa também revelou que alunos com melhores desempenho escolar tendem a ser menos envolvidos em situações  de maus-tratos, seja como agressores ou vítimas. Por outro lado, quanto mais o aluno é temido por seus colegas e menos é incluído em atividades sociais, maior é a probabilidade dele apresentar comportamento agressivo.


Segundo o pesquisador, no caso dos alunos com melhores desempenho, isso ocorre porque a escola consegue envolvê-los no conhecimento que transmitem no ambiente escolar: “Nos resta a seguinte conclusão: se a escola pudesse investir nos alunos mais agressivos ou com mais dificuldades para que eles possam aprender e expressar melhor o conhecimento adquirido nas escolas, é provável que eles deixem de ser agressivos. Portanto, isso seria parte da solução do problema da violência nas escolas,” declara Crochick.


Rotatividade e melhores condições

 


Segundo o pesquisador, a investigação mostrou como grande obstáculo para implementação de uma política de combate à violência escolar, a alta rotatividade de diretores, professores e de alunos na rede estadual e municipal. Durante os 4 anos da pesquisa, na escola 1, saíram 12 professores, 3 diretoras e uma vice-diretora. Na escola 2, houve rodízio de diretores e saíram 50 professores. Na escola 3, saíram 21 alunos.


“Saíram professores e alunos e entraram outros, mas fica claro, que a alta rotatividade é um grande obstáculo para implementação de projeto pedagógico para combater a violência escolar. O que falta são políticas públicas para que todos queiram ficar por mais tempo em um determinado lugar”, relata Crochick.


 


Crochick destaca ainda que, na maioria das vezes, o professor é obrigado a ter múltiplas tarefas, o que contribui negativamente para que eles tenham tempo para transmitir aquilo que possa agregar mais valor na vida dos alunos. “Mas se os professores puderem ser, além de transmissores de conhecimento, pesquisadores e estudiosos, isso permitiria outra relação com o conhecimento, para que mais do que formar seus alunos para o trabalho e para ter melhores condições de vida, também pudesse formá-los para uma boa relação com a cultura”, diz o pesquisador.


 


O trabalho ajudou a derrubar o mito de que a escola pública é ruim, uma vez que mostrou a existência de educadores comprometidos em contribuir com a formação dos estudantes: “Outro ponto que eu quero destacar é que vale a pena investir na escola pública. Ela é muito boa e existem ótimos professores que desejam ajudar a desenvolver seus alunos”, conclui Crochick.


 Mais informações: jlchna@usp.br

 


*Estagiária sob orientação de Moisés Dorado


Homem branco, calvo, usando óculos e barba cerrada, trajando camisa xadrez

O professor do Instituto de Psicologia José Leon Crochík - Foto: Francisco Emolo





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