O assassinato de Iara Iavelberg
Hoje vamos recordar o assassinato de Iara Iavelberg, nascida em 7 de maio de1944 na cidade de São Paulo, professora e psicóloga formada pela USP, uma menina filha de Sr. David e Eva Iavelberg, de uma família judaica de avós maternos húngaros e paternos romenos. Que teve um casamento ainda muito jovem, aos 16 anos numa cerimônia judaica, mas que teve apenas uma efêmera duração. Ela de fato casou-se com a militância política.
Foi da Organização Revolucionária Marxista Política Operária - Polop e depois foi para o Movimento Revolucionário 8 de outubro. Teve um affeire com o conhecido líder estudantil na época José Dirceu, porém o seu coração teve reservas e paixão pelo capitão Carlos Lamarca, um dos principais líderes da oposição ao regime de governo militar que se implantou, até que ambos morreram no cerco feito pelo serviço de segurança deste país, numa Operação chamada Pajussara na qual contou com 200 policiais.
Entre essa história de dores e horrores causados pelos militares, gosto mesmo é de recordar a história das cartas de amor que inclusive foi publicada pela imprensa brasileira. Na qual Carlos Lamarca quando tratava de maor assinava Cirilo.
Te amo, te adoro, segue e segue essa carta impregnada de amor - vou te ver nem que seja a última coisa de minha vida, mil beijos de seu Cirilo."
Esse fragmento do documento mostra primeiro de tudo que Lamarca tinha um amor e uma paixão louca por Iara. Porém separados pelas condições revolucionárias que estavam vivendo sabiam que o encontro de ambos, por mais simples que fosse era temerário. Ele estava vivendo dias de tormentos e saudades. Tinham os amigos como os companheiros em que discutiam coisas porém mostravam desconfiados com o medo de um infiltrado. E tinham consciência que nem tudo que se fala podia ter todos escutando. É a clandestinidade, faz todos parecer uma pequena formiga que necessita abrir caminhos construindo sozinha, como o beija flor que diante do incêndio na floresta leva apenas água que se bico pode carregar, mas sabe que não conseguira interromper o desastre porém está fazendo a sua parte. E daí a necessidade de focar tudo na ordem politica. Porém dá para ver que Lamarca tinha uma pitadinha de ciúmes de Iara, quando ele pede para não envolver com ninguém sentimentalmente.
Enquanto isto num dia 29 de junho de 1971, o capitão Carlos Lamarca, longe de sua amada Iara Iavelberg começava a escrever para compensara a sua solidão, perdido na cidade de Ipupiara-BA. E dizia "hoje é um dia santo, um dia de festa, como sou clandestino, ouvirei ao longe, um pouco da alegria do camponês. Hoje encontrei com um velho e rijo companheiro politizado. conversamos. Senti aquela força revolucionária. Falei muito, esquecendo a autocrítica que devia iniciar. -Lembrei-me da sua critica e senti saudade, não da crítica mas de ti mesma." Eis ai o fragmento de uma solidão de uma noite junina.
Karl Marx dizia que o tempo é o campo do desenvolvimento humano. E penso que há tempo de espera, há esperanças, há desesperanças, e entre nós a lembranças e o sentimento de saudades, que é algo explicável apenas para quem tem a possibilidade de falar a língua portuguesa e assim expressar, algo que até leva-nos ao choro.
Na visão filosófica de Karl Marx, obviamente li o livro de Morgana Gomes "A vida e o pensamento de Karl Marx" e sei que ele estudou Demócrito e Epicuro que evdenciavam o materialismo, e Heráclito que flava sobre a dialética dois logos duas opiniões divergentes, e Marx defendeu o materialismo dialético tentando superar o pensamento de Wilhelm Friedrich Hegel, o último filósofo clássico alemão, autor do esquema dialético, no qual existe de lógico, natural, humano e divino, no qual o que existe de tese e antítese, até chegar a uma síntese mais rica e nisto encontra com a teoria de Lwdwig Andreas Feuerbach, outro filósofo alemão aluno de Hegel, reconhecido por sua filosofia humanista, que prega a religião como forma de alienação, que projeta o ideal humano em um ser supremo.
E no pouco fragmento de uma noite festiva num dia de São Pedro, em que muitos atribui o senhor das chaves do céu. Porém todos pensam em ficar vivos, todos sonham em lutar nesta terra, em que todos pensam numa salutar convivência, como Lamarca escreveu para Iara que lembrava da crítica dela mas não era essa a sua maior lembrança e sim era dela e provavelmente dos beijos dela do corpo dela, dos gemidos dela. Coisa que só o apaixonado pode entender, outras pessoas não. E esse tempo de saudade também foi parte do desenvolvimento dele dos últimos escritos lúcidos do capitão. Numa doce alienação religiosa e festiva, dos camponeses e a sua solidão no mato de Ipupiara na Bahia.
E o o que sei que de um garoto de apenas quinze anos, completei meus 16 anos exatamente no dia em Carlos Lamarca fechava a sua carta para chegar até a sua amada Iara Iavelberg. E sei que suas palavras em fragmentos colhidos por mim dizia "Quero que você tenha cada vez mais interiorizado que te amo muito, que preciso encontrar-me com você, pois morro de saudade, . .te amo te adoro e segue essa carta impregnada de amor.", Já não era mais festa de santo, já não havia mais foguetório, os dias passaram e era exatamente 16 de agosto de 1971, e sua carta virou um diário. E foi no dia do meu aniversario, em que Carlos Lamarca acabara de deixar o seus sonhos escritos, com toda a ternura de um ser humano masculino que ama loucamente e docemente uma mulher. Porém um sonho que ele vai guardar para o céu aos que acreditam para a eternidade quem sabe, pois antes de encontrá-la ele é assassinado.
E já a morte de Iara está cheio de contradição de desencontro de informação segundo o relatório dos militares ela suicidou-se com um tiro que trespassou o coração e o pulmão. E que ela estava sob o efeito de gás lacrimogêneo. Onde ela estava era um aparelho de uma amiga Nilda Cunha que faleceu numa crise de nervos de loucura e com endema cerebral e em seguida sua mãe Esmeraldina da Cunha também suicidou com um fio. Já o corpo de Iara ficou no IML de Salvador e somente foi entregue para a família em setembro de 1971 e está enterrado no Cemitério Israelita de São Paulo. Uma triste história. Porém parte da narrativa brasileira de violências praticada pelo Estado. Simplesmente isto.
Manoel Messias Pereira
poeta, professor de história
Membro do Coletivo Negro Minervino de Oliveira - São Jose do Rio Preto -SP. Brasil
São José do Rio Preto -SP. Brasil
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