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Crônica - A morte do camarada Federico Garcia Lorca - Manoel Messias Pereira

 






A Morte do camarada Federico Garcia Lorca


A história de Federico Garcia Lorca, sempre traz a lembrança de alguém fuzilado em 18 de agosto de 1936, mas cujo o corpo nunca foi encontrado. Uma história que também faz recordar-me o Brasil nos idos da ditadura Civil e Militar que atendiam os anseios de Washington-EUA, que estabeleceu  em prática as Operações Condor, Bandeirantes e Brother Sam. Porém a conjuntura da morte assim como da vida de Lorca é outra.

E para estabelecer uma análise histórica da época vamos recordar que o mundo viveu o confronto imperialista de países desenvolvidos, industriais, capitalistas que se confrontaram na Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), tendo no seu encerramento estabelecido algumas sanções sobre A Alemanha conforme todos nós sabemos pelo Tratado de Versalhes, na qual a Alemanha deveria  devolver Alsácia e Lorena,  a Alemanha e a Áustria ficam proibidas de estarem unidas num só país, parte do território alemão foi cedido à Polônia, incluindo uma saída para o mar que separava a Prússia Oriental do restante da Alemanha e esse era o corredor polonês. A Alemanha devia ser desarmada e seu exército reduzido a 100 mil homens,  teve a proibição de ter marinha de guerra, tanques , aviões e artilharia pesada, e devia pagar uma indenização de guerra. Em outras palavras o rearmamento da Alemanha havia sido proibido.

Porém a proibição do Tratado de Versalhes nos seus mais de duzentos artigos não surtiram efeitos. E no período entre guerras quando surgiu o fascismo, o nazismo, o franquismo e a Espanha em eleições de 1936, que foram vencidas por uma aliança  formada por socialistas, anarquistas, comunistas e republicanos que organizou um frente popular e que prometia reformas econômicas, em benefício dos trabalhadores. O que levou a elite juntar-se e resistir a um poder popular. E com isto teve-se na Espanha a interferência de Hitler, de Mussolini e contou com Francisco Franco, para por fim ao poder de tendência socialista. E para tal organizam o partido Nacionalista da Falange (fascista), com apoio da Igreja Católica,  dos grandes proprietários de terra, da burguesia comercial, industrial e financeira e assim começou uma guerra civil sangrenta.

Na época o governo popular somente contou com apoio de estrangeiros libertários que para lá foram. enquanto que os alemães fizeram uma tática de guerra em que destruíram a cidade de Guérnica, que foi retratada na obra de Pablo Picasso de 1937. E foi nesta guerra civil que tivemos o fuzilamento de Federico Garcia Lorca. E assim como Garcia Lorca, outras vítimas desta louca guerra civil que fez 1(hum) milhão de mortos e possibilitou a Francisco Franco chegar ao poder.

Eu lembro que no período entre guerras  os Estados Unidos começou a produzir aceleradamente devido a necessidade da Europa reorganizar a suas economias, enterrarem seus mortos e isto ocorreu quase que rapidamente,  E nisto os Estados Unidos que necessitava de fazer essa observação não fez, continuou com uma produção acelerada a ponto de ter uma superprodução, que com a recomposição da Europa ficou estacionada nos Estados Unidos. Em que as empresa ficaram sem vendas, a economia parou e teve início a especulação  financeira com a venda de ações. Até a queda da bolsa de Nova York  de outubro de 1929. 

Porém a arte de Lorca se fez presente nestes Estados Unidos, e permaneceu lá nove meses a quem diga-se exilado por ali, quando criou e dirigiu "La Barca", que encenou Cervantes e Lopes Veiga. Varias peças e poemas que escreveu em Nova York só foi publicado após a sua morte.

O primeiro livro escrito por Garcia Lorca foi impressões e paisagem, foi um poeta, dramaturgo, foi amigo de Salvador Dali e talvez até um namoro,  o poeta era homossexual, e mantinha um certo desprezo pelas concepções ideológicas do fascismo e do nazismo.

Na revista Cult de junho de 1998, Claudio Willer, escreveu uma matéria intitulada "O sol noturno de Federico Garcia Lorca, em que ele destaca como ler uma obra tão extensa de alguém que viveu somente trinta e oito anos e ele vai fazendo observando a ora do autor. Isto recorda a forma como Carlos Drummond de Andrade dizia que  só podemos entender os poetas por suas poesias. E em relação a crise de 1929, Willer descreve parte da obra de Lorca assim: 

"O ímpeto primitivo baila com o ímpeto mecânico,

ignorantes em seu frenezi da luz original.

Porque , se a roda esquece sua fórmula,

já pode cantar desnuda com as manadas de cavalos;

e se uma chama queima os gelados projetos

o céu terá que fugir até o túmulo das janelas.


O Poeta em Nova York radicaliza  a relação baudelariana do flâmeur. o caminhante desgarrado capaz de enxergar uma beleza nova e particular na metrópole.


"Nova York de lama,

Nova York de arame e de morte

Que anjo levas oculto na face?

que voz perfeita dirás a verdade do trigo?

Quem o sonho terrível de sua anedotas manchadas?


Em um outro momento da história vi um autor  como Nietzcher dizer "que a arte deve revelar e tornar o visível o invisível" Em outro momento vi Hegel dizer que ' pode-se admirar num artista que imita, a proeza e a habilidade técnica posta a serviço da ilusão, se bem que, acrescenta, "admiram-se mais do que os instrumento como um navios, um prego, um martelo que são criações originais"

Admiramos a poética, a prosa teatral, provinda do garoto que nasceu em Fuente Vaqueiro no dia 5 de junho de 1898, ano da fundação do Partido Operário Social Democrata Russo, quando prevalecia o aparecimento do expressionismo em oposição ao impressionismo, numa fuga das regras, na deformação da realidade e das formas simples das cores. Assim nasceu o autor borboleta afogada no tinteiro, um socialista, gay, filho de Vicenta Lorca Romeiro uma professora de meninas. 

E em 18 de agosto de 1936, com um momento histórico profundamente pesado, com o fascismo o nazismo, o franquismo, o grande autor talvez o mais importante da literatura da Espanha do período contemporâneo era assassinado com fuzilamento e o seu corpo até hoje desaparecido. Há quem diga que virou purpurina.




Manoel Messias Pereira


professor, cronista, poeta

Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
Membro do Coletivo Negro Minervino de Oliveira  - São José do Rio Preto -SP
Membro do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de São José do Rio Preto -SP. Brasil
São José do Rio Preto -SP. Brasil







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