Os 111 anos de nascimento do camarada Mario Schenberg
Em 2 de julho de 1914 nasce no Recife capital do Pernambuco, Mario Schenberg, provindo de uma família judaica. Recebeu o nome de Mayer Schonberg, seus pais eram judeus de origem alemã. O seu nascimento ocorreu exatamente no ano em que deu início no mundo a Primeira Grande Guerra. E ainda criança passou a ter interesses diversos, teve contatos com a arquitetura gótica, interessou por história e encantou com a geometria. E já na adolescência conheceu o marxismo, e passou a ser assim um comunista. Sua vida conjugal apresenta-se dois momentos o casamento com a senhora Julieta Barbara Guerani a ex-esposa do escritor e camarada Oswald de Andrade e o segundo casamento com a senhora Lourdes Cedran a artista plástica. Mario teve uma única filha Ana Clara Guerrini Schenberg.
Aqui em São Paulo estudou e trabalhou na Escola Politécnica. Inaugurou a cadeira de mecânica celeste e Superior do departamento de Física da FFCL atual Instituto de Física da USP, Membro do Instituto Advanced Studies de Princepton e do Observatório Astronômico de Yerles. Em Bruxelas trabalhou com raios cósmicos e mecânica estática. Criou o laboratório de estudos Sólido da USP, instalou o primeiro computador da Universidade, criou o Curso de computação. Trabalhou com mecânica quântica, termodinâmica e astrofísica. dedicou à física tirava fotos preparava catálogos e estudava ciência Oriental. Na sua carreira universitária tem o chamado processo Urca o que permitiu entender o colapso das estrelas super-novas. Publicou mais de uma centena de trabalhos científicos em física teórica, em física experimental, em astrofísica, mecânica estática, mecânica quântica de campo, fundamento de física, além de escrever muitos trabalhos de matemática.
Como o conhecido processo da Urca, foi uma das suas principais descobertas e isto ele estava nos Estados Unidos da América a convite do astrofísico russo George Gamow. Para ser mais didático, esse estudo em astrofísica refere-se ao mecanismo de perda de energia em estrelas massivas como a estrelas de nêutrons e anãs brancas, devidos à emissão de nêutrons, partículas subatômicas que interagem com a matéria. E esse nome é em alusão ao Cassino da Urca, pois foram lá que ambos físicos Schenberg e Gamow começaram a conversar.
E a sua atividade política paralela a atividade acadêmica, foi eleito em 1946, pelo PCB a deputado Constituinte do Estado de São Paulo. Revelando-se um orador invejável e chegou por diversas vezes inverter a posição dominante da bancada. Em 1947 sob a liderança do economista Caio Prado Jr. a bancada aprovou o Artigo 123 da Constituição do Estado de São Paulo instituindo o fundo de amparo à pesquisa e seu desenvolvimento científico e tecnológico. E esse projeto levou mais tarde a concepção da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo a Fapesp. E em 1948 foi cassado e vítima da perseguição na Universidade juntamente com outros membros da bancada comunista liderada por Caio Prado Jr.
Em 1962 foi novamente eleito agora pelo Partido Trabalhista ;brasileiro -PTB, porém teve o seu diploma impedido, após apontarem ele como comunista e membro do PCB não membro do PTB. E com o golpe civil e militar implementado no Brasil em 1964, com as Operações Broter Sam, Condor e Bandeirantes, Mario Shemberg foi detido por sete dias permanecendo confinado no DOPS por mais dois meses. Depois em 1965 foi preso e acusado por sua atuação política na Universidade. Seu mandato na prisão foi revogado devido a pressão internacional da comunidade científica.
Com o Ato Institucional n.5, considerado o mais duro do regime militar, ocorrido em 1968. Tivemos em 1969 Schemberg sendo aposentado compulsório da Universidade. E na década de 70 sofreu muitas perseguições e até ameaças física, o que foi revertido com a abertura política portanto dez anos mais tarde.
Era um hábil crítico de arte e numa carta escrita a Clarice Lispector em 1970 ele escreve "Minha situação geral modificou bastante, em consequência do isolamento em que passei a viver, como resultado de minha aposentadoria e da impossibilidade de exercer a critica militante. Foi um desafio tremendo, mas creio que pude reagir de modo mais crítico não só retomando com maior energia as pesquisas anteriores sobre a teoria da gravitação e o problema das relações entre a física e a geometria, como também os estudos filosóficos mais sistemáticos. Publiquei três trabalhos e um pensamento sobre a arte. Agora estou escrevendo um pequeno ensaio sobre a crise atual das artes plásticas, que talvez seja o ponto de partida para um ensaio mais longo"
Sobre a vida pessoal sei que a sua primeira esposa foi a uma das ex-esposa de Oswald de Andrade a Sra. Julieta Bárbara Guerrini e mãe de sua única filha Ana Clara Guerrini Schemberg e já sua segunda esposa era artista plástica a Sra. Lourdes Cedran, talvez isto explique a sua critica as artes plásticas.
Em sua memória hoje há nome de escolas, como nome de um colégio, de uma faculdade, e talvez de ruas praças. E com certeza uma homenagem de enorme significação pelo que ele foi como ser humano pensante de uma sociedade que lentamente desenvolve no Brasil.
Em 1990 no dia 10 de novembro as principais matérias dos jornais eram essas o "Governo volta a ouvir os empresários," Ou Engenharia genética faz rato humanizado" "O Brasil domina material para o chip do Século XXI, ou a "Ciência besbilhota conversa de células".
E Neste dia aos 76 anos de vida ele deixava o mundo físico para eternizar-se na história. Faleceu em São Paulo no dia 10 de novembro de 1990.
No outro dia ou seja 11 de novembro a mediocridade da mídia, da imprensa brasileira trazia no contexto das matérias jornalísticas títulos como esses "A maioria acha a vida pior depois do Plano Collor", "Os Estados Unidos aumentaram pressão sobre o Golfo", Gorbachev busca apoio para a sua Perestroika", Túnel sob o Canal da Mancha como obra do Século.É Nenhuma imprensa conseguiu trazer o impacto da morte do cientista Mario Schemberg na estrutura da ciência e tecnologia do mundo. Mesmo sendo ele a maior expressão científica do país.
Enquanto todas essas noticias eram descritas nos principais jornais do pais, o que parecia replicadas críticas vazias. . . . a família de Mario Schemberg, chorava junto ao caixão. E os membros do Partido Comunista Brasileiros de punho cerrados gritavam Schemberg -presente, presente, presente. E aquele homem sensível pela linguagem do silêncio, na contemplação do mundo que via além do próprio além adormecia para todo presente e para o eterno infinito.
Manoel Messias Pereira
professor de História, cronista e poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
Membro do Coletivo Minervino de Oliveira.
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