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Crônica - Eliseth Moreira Cardoso uma estrela eterna - Manoel Messias Pereira

 







Eliseth Moreira Cardoso um estrela eterna


Fui criança, fui adolescente, fui adulto e em todas as fases da vida encantei com um canto acompanhado de um cavaquinho, cuja a beleza da voz de uma mulher me levava ao céu como se voasse numa prece. E essa voz da liberdade era de Elizeth Cardoso, aquele encanto sonoro que o Brasil aprendeu a dizer e chamar carinhosamente  de Divina.

Eu ainda criança, vi minha mãe chorar com Ave Maria no morro, eu nunca entendi, pois minha mãe que foi católica, estudante do Colégio Santo André, teve uma passagem  meteórica pela Tenda do Irmão Miguel portanto experimentou o pentecostalismo, virou espirita e se curou na Umbanda, como se tudo fosse a grande mistura fina. Manteve sempre o olhar ao cair da tarde e nunca perdeu a oração à Virgem Maria.

E quando ouvia a cantora Eliseth Cardoso com certeza via naquela voz uma oração e uma mensagem aos céus. 

Já na minha adolescência vi um programa de televisão em que a cantora apresentava, e recordo que foi neste programa que vi o acordeonista Caçulinha, tocar samba, foi neste programa que vi Benito de Paula, cantar e encantar o mundo com a música "Mulher Brasileira" e assim como outros tantos artistas que surgiram, mas nunca esqueço que ela cantava e encantava com a música ""Naquela Mesa. E essa foi a musica que encontrava os amigos, lá na residência do Benedito e que organizávamos as nossas apresentações, nos bailes das vida. 

Depois disto passei mais atenção no seu canto e o meu encanto, ficou na descoberta de autores como Vinícius de Moraes, e canto como "Canção do Amor demais", "Estrada Branca", "Pela Luz dos olhos teus" entre outros grandes sucessos.

Recordo que um dia fui com a orquestra do Reinaldo apresentar em Fernandópolis, no mesmo Club e um repórter veio entrevistar o cantor da Banda, mas conversando de forma amistosa, ele teceu um comentário assim "é Elizeth Cardoso é uma das cantoras de voz mais linda, porém o seu sucesso tem um alcance reduzido de público".

 É essa frase dita pelo repórter, me deixou pensando e eu passei a acreditar que eu fazia parte deste público reduzido. Ou seja o sentido e o sentimento humano, assim como a arte que emociona ela não está em banca ou feira para as pessoas apalparem como se fosse legumes. Mas está de forma concreta, na ternura de quem canta e de quem ouve. Na alegria da emoção porém sem perder a razão. A sempre um cérebro e um coração, para nos fazer sorrir ou chorar com a arte.

A história da cantora Eliseth foi de muita simplicidade, a sua infância ela escrevia e interpretava história como se fosse estrela do teatro e do cinema, mas foi no canto que ela se revelou para o mundo. Primeiro cantar era para as crianças. Pelas dificuldades financeiras precisou parar de estudar ainda no ensino fundamental.

Precisou morar com um tio em que a casa era frequentada por astros como Pixinguinha, Dilermando Reis, Jacob do Bandolin. Ela quando cantava recebia elogios de todos. Seu pai não gostava da exposição da filha.

Porém foi aos dezesseis anos que ela conheceu o jogador Leônidas e ela teve uma paixão avassaladora, porém desobedeceu o seu pai que não ficou feliz com esse primeiro namoro da ilha ela morou com o jogador até que um dia colocaram uma recém nascida na sua porta. Eliseth apaixonou-se pela criança. Leônidas disse ou eu ou a criança. E ela saiu da casa do jogador e voltou para a residência da mãe e registrou a criança com o nome de Tereza Carmela Moreira Cardoso.

Ela na sua juventude foi contratada ao participar de um teste musical na Radio Guanabara e apesar de nunca ter feito aula de canto o seu canto sempre foi divino e impecável. Já vi muitas história sobre Elizeth inclusive aquela que ela teve que trabalhar dançando. Mas não saiu-se bem e o que prevaleceu  foi seu canto.

Porém o canto que incomodava e que emocionava os pequenos jovens de sua infância era "Porta aberta" que foi sucesso de Vicente Celestino. Porém nós os poetas temos a estranha mania de casar comparações nos lugares em que as emoções falam por nós. Um dia Alfredo Chlantac Filho lá de Niterói escreveu "Porta aberta/Longo será i inverno nuclear/Quando irmão?/Que grande empresa arriscara o tal negócio?/Que cabeça de artista estará preparada para tão desvairada ocasião? Quando?. Pois bem na voz de Eliseth Cardoso o canto de porta aberta era assim "Porta aberta sob o emblema de uma cruz essa porta não se fecha, são as portas de Jesus"

Seu canto era uma oração, ou talvez um apelo de paz como escreveu Mario de Oliveira lá do Rio de janeiro "A pomba não me pergunta enquanto cata/ o milho/ ou quando o ninho faz/ o quanto pesa cada gesto desses/no seu símbolo da Paz." É a mesma oração de um canto de Eliseth, é a mesma interpretação que fazia a minha mãe chorar, é a mesma interpretação que fez o repórter de Fernandópolis dizer que seu canto era para um público reduzido. Talvez fosse. 

O importante é que canto divinal me fez olhar a estrada, a colher a flor e entender que a sempre um mesa para sentar e lembrar de alguém e sempre uma estrada branca marcada pela ternura da minha presença negra, tal qual a cor dela, tal qual o sentido de nossas existências. Na alegria da emoção sem perder a razão. Temos cérebros e coração e queremos chorar e sorrir com sua arte, divina estrela Elizeth Moreira Cardoso, nascida em 16 de julho d 1920 e falecida em 7 de maio de 1990no Rio de Janeiro. Uma das maiores interpretes da Música Popular Brasileira. Seja de onde estiver continua brilhando e nunca perco os passos por colher as flores e guardar com ternura para sempre suas músicas.


Manoel Messias Pereira

poeta, cronista e professor

São José do Rio Preto -SP. Brasil







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