Manifestação no Rio de Janeiro pelo rompimento de relações do Brasil com Israel. Foto: UJC RJ
Por Jeferson Garcia, secretário político do Coletivo Negro Minervino de Oliveira e militante do PCB- Maringá
Imagine que, enquanto você trabalha, soldados entram na sua casa, expulsam sua família e usam suas roupas para vestir cães. Imagine que, sobre a sua cabeça, voam bombas que destroem sua cidade, transformando a vida em rochas e poeira. Seus filhos não têm pão, nem teto. Sob os seus pés, seus amigos e familiares estão soterrados nos escombros de hospitais. Sim, imagine que outro país invada, assassine, mate crianças em filas de distribuição de comida. Essa realidade não é a sua, mas é a de muitos palestinos.
Enquanto você lê este texto, mulheres grávidas não têm hospital para dar à luz seus filhos; idosos com diabetes não conseguem fazer tratamento; crianças caminham sujas, sem água, carregando panelas com a esperança de receber doações humanitárias — caso os soldados de Israel não as matem no trajeto. Por favor, não pare de ler aqui. Não feche os olhos. Sabemos que não dói em você. Mas… não deveria doer?
Estamos nas ruas hoje para denunciar os absurdos que Israel comete contra o povo palestino e pedir que você abra os olhos e, também, se revolte. Gostaríamos de dar boas notícias, mas acordamos com o som de mais um bombardeio, mais mentiras na televisão chamando um massacre de guerra. Não acredite: não há guerra. O ato de destruir sistematicamente um grupo de pessoas tem nome — genocídio. A Palestina nem exército tem. Por isso, os jornais tentam te convencer de que o povo palestino, o povo árabe, é apenas um povo terrorista. Tudo na televisão é “Hamas”, mas as mentiras que contam, doces como mel, estão cheias de moscas. Moscas que rodeiam os corpos quase sem vida de crianças que hoje passam fome, em nome de uma ocupação militar.
Gostaríamos de dormir um pouco mais, de aproveitar o dia brincando com as crianças. Mas a memória traz à lembrança de um povo que recolhe os corpos de seus filhos, explodidos pelos bombardeios, em sacos plásticos. Uma irmã carrega no colo o tênis do irmão. Um pai carrega no colo o filho sem vida. Até quando vamos ignorar? É preciso denunciar até que o governo brasileiro corte todas as relações com Israel. Que o Brasil deixe de comprar suas armas, de exportar nosso petróleo, de colaborar com o genocídio. É preciso denunciar até que cessem os
bombardeios. É preciso denunciar até que as mães parem de enterrar suas crianças e possam, enfim, voltar a brincar com elas.
Desculpem o mensageiro: a palavra é dura porque não há tempo a perder. Uma criança morre a cada hora em Gaza — por tiro, por bomba, por fome. Gostaríamos de trazer boas notícias, mas é hora de perdermos a paciência. Se toda essa dor não nos fizer lutar, talvez nós também estejamos mortos.
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