World Food Prize, considerado o Nobel da Agricultura
Mariangela Hungria, graduada e mestre pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, foi reconhecida pelo desenvolvimento de tecnologias inovadoras em microbiologia do solo, como o uso de produtos biológicos na agricultura
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15/05/2025 - Publicado há 1 mês Atualizado: 03/06/2025 às 8:11
Mulher branca, de meia idade, com cabelos escuros com jaleco branco num laboratório
Mariangela Hungria, pesquisadora premiada por pesquisas em microbiologia do solo – Foto: Youtube/Embrapa
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Engenheira agrônoma formada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, a pesquisadora Mariangela Hungria foi laureada com o Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize), reconhecido como o “Nobel” da agricultura. O anúncio ocorreu na terça-feira, dia 13 de maio, na sede da Fundação World Food Prize, nos Estados Unidos. Concedido anualmente, o prêmio reconhece as personalidades que contribuem para aprimorar a qualidade e disponibilidade de alimentos no mundo.
Mariangela, que também tem mestrado em solos e nutrição de plantas pela Esalq, é pesquisadora da Embrapa, membro da Academia Brasileira de Ciências, e é reconhecida pelo desenvolvimento de tecnologias inovadoras em microbiologia do solo, com 40 anos dedicados a pesquisas. Em anúncio sobre o prêmio, a fundação destacou que as descobertas de Mariângela ajudaram o Brasil a se tornar uma potência agrícola global.
“Substituir o uso de produtos químicos por produtos biológicos na agricultura tem sido a luta da minha vida. Tenho muito orgulho de contribuir para a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, diminuir o impacto ambiental. A meta era aumentar a produtividade com o menor uso possível de produtos químicos, e conseguimos isso com mais produtos biológicos”, afirmou Mariangela em comunicado sobre o prêmio.
Para ela, a láurea é um reconhecimento também à ciência feita no Brasil e um estímulo a outras pesquisadoras. “Não consigo acreditar que agora estou recebendo o Prêmio Mundial da Alimentação. Muitas pessoas questionaram minha capacidade ao longo de minha carreira, mas eu acreditei no que estava fazendo e perseverei. O papel das mulheres na agricultura, da agricultura à ciência, merece mais reconhecimento. Espero que minha conquista inspire outras pessoas a perseguirem suas paixões na ciência.”
Fertilizantes biológicos
Inspirada por Johanna Döbereiner, reconhecida internacionalmente por suas contribuições à agricultura, Mariangela foi uma das primeiras defensoras da fixação biológica de nitrogênio, processo no qual culturas formam uma associação mutuamente benéfica com as bactérias do solo que fornecem nitrogênio, nutriente essencial para o crescimento das plantas.
Ao longo da carreira, desenvolveu dezenas de tratamentos biológicos, reduzindo a necessidade de fertilizantes sintéticos e aumentando a produtividade. A estimativa é que suas tecnologias tenham sido usadas em mais de 40 milhões de hectares no Brasil, economizando aos agricultores até US$ 25 bilhões por ano em custos de insumos e evitando mais de 230 milhões de toneladas de emissões equivalentes de CO2 por ano.
Segundo a Embrapa, onde atua desde 1982, a ênfase das pesquisas de Mariangela tem sido no aumento da produção e na qualidade de alimentos por meio da substituição total ou parcial de fertilizantes químicos por microrganismos portadores de propriedades como fixação biológica de nitrogênio, síntese de fitormônios e solubilização de fosfatos e rochas potássicas.
Além das pesquisas com soja, Mariangela também já coordenou estudos que levaram a tecnologias para outras culturas, como feijão, milho e trigo. Em 2020, foi classificada entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo pela Universidade de Stanford (EUA).
Além do mestrado na Esalq, Mariangela tem doutorado em Ciência do Solo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e pós-doutorado em três universidades: Cornell University, University of California-Davis e Universidade de Sevilla. Iniciou a carreira em 1982 na Embrapa Agrobiologia, em Seropédica, no Rio de Janeiro. Desde 1991, atua na Embrapa Soja, em Londrina, no Paraná. É ainda professora da Universidade Estadual do Paraná e da Universidade Federal de Tecnologia do Estado do Paraná.
Primeira mulher brasileira a receber o prêmio
Essa é a terceira vez que o Prêmio Mundial de Alimentação é concedido a brasileiros, e a primeira para uma mulher do País. Em 2006, os agrônomos Edson Lobato e Alysson Paulinelli dividiram o prêmio com A. Colin McClung, dos Estados Unidos, pelo trabalho no desenvolvimento da agricultura na região do Cerrado. Em 2011, dois ex-presidentes, Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e John Kufuor, de Gana, foram escolhidos por sua atuação no combate à fome como chefes de governo.
O prêmio foi idealizado por Norman E. Borlaug, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1970 por seu trabalho na agricultura e considerado “pai” da Revolução Verde. A láurea foi criada em 1986, com patrocínio da General Foods Corporation. Com o reconhecimento, Mariangela receberá US$ 500 mil e uma escultura projetada pelo artista e designer Saul Bass. A solenidade de entrega do prêmio será em 23 de outubro, em Des Moines (EUA).
Presente no anúncio, a governadora do estado de Iowa, Kim Reynolds, reforçou o exemplo de Mariangela a outras mulheres. “Como cientista pioneira e mãe, a dra. Hungria também serve como um exemplo inspirador para mulheres pesquisadoras que buscam encarnar ambos os papéis. Suas descobertas levaram o Brasil a se tornar um celeiro global”, afirmou.
“A dra. Hungria foi escolhida pelas suas extraordinárias realizações científicas na fixação biológica que transformaram a sustentabilidade da agricultura na América do Sul”, afirmou o presidente do comitê de seleção dos indicados ao prêmio, Gebisa Ejeta. “Seu brilhante trabalho científico e visão comprometida no avanço da produção agrícola sustentável lhe renderam reconhecimento global, tanto no país como no exterior.”
Mais informações sobre o World Food Prize estão disponíveis neste link.
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Texto: Academia Brasileira de Ciências
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