O quarto trancado
Um dia sonhei com uma antiga casa em que morei, recordo que nessa casa procurei a minha mãe e a minha avó, materna ambas já falecidas. No sonho abri a porta da sala e da cozinha, chamei -as e não encontrei. Sai pelo quintal olhei onde estava instalado o varal onde secavam nossas roupas e ali também não estava. E dialoguei com uma irmã no sonho onde elas estavam mas ela também não respondia. E por fim acordei. Só não abri as portas dos quartos. E daí resolvi pensar neste curto espaço de tempo em que sonhei.
Mas se nós resolvemos a procurar informações sobre o ato de sonhar veremos que os sonhos são manifestações do inconsciente, um canal real para acessar os pensamentos e desejos que não são conscientes. Ou realizações disfarçadas de desejos reprimidos ou formas de expressão da mente inconsciente. E quem dizia e escreveu sobre isto foi o psicanalista Sigmund Freud.
Porém eu sempre acredito que enquanto filho e enquanto neto, eu sabia de minha mãe e minha avó materna apenas o que ela permitia eu saber. Eram pra mim duas mulheres cada qual com sua história, mas que se cruzavam pois mães e filhas tem as suas intimidades que eu como neto ou filho jamais imagino.
Quando lembro delas recordo, que ambas não tinham maridos, a minha avó casou-se aos quinze anos na cidade de Cajobi-SP, mas após cinco anos de casada teve a separação do esposo. Meu avô era um homem vivido ao casar com ela. Era um homem que já tinha uma viuvez, era o mestre da folia de reis, e casou-se pois ela fora prometida aquele homem pelo bisavó. E na época a mulher sacrificava-se para cumprir o que pedia seu pai.
E a promessa para esse casamento fora feita a partir de uma morte aparente da minha avó Ana. O meu bisavó senhor Lázaro dos Anjos, disse numa prece a Santos Reis, se ela voltar a vida casaria com o mestre da folia de Reis. E por ventura avós Ana despertar -se de dentro do caixão, aos 12 anos. O milagre de Santos Reis se cumpriu lá na cidade de Rio de Contas -BA, e ela teve que esposar com meu Avó senhor Jose António de Souza.
Porém antes de tudo ocorrer ela saí da Bahia com outros dez irmãos e a mãe dona Maria Pereira dos Anjos e vem morar no Estado de São Paulo. E o mestre da folia também desloca-se para cá e ambos na cidade de Cajobi -SP, casam-se na Igreja local, na qual tive o prazer de visitar a Igreja e a cidade. Pequena mas bastante hospitaleira.
Do enlace matrimonial, nasceu a minha mãe, e que teve uma outra irmã, que acabou vindo a falecer na cidade de São José do Rio Preto -SP, quando a minha avó já havia separado do seu casamento. Eu perguntei enquanto elas estavam vivas sobre a separação. Minha avó me disse que não aguentava a quantidade de namoradas que meu avô tinha. Mas como tive pouco contato com ele nunca perguntei nada. E sobre a irmã dela ela pouco sabia explicar.
São segredo que as mulheres as vezes levam para seus túmulos, a minha avó aqui tentou refazer sua vida e amasiou-se com senhor Jose Charles, na qual teve outros três filhos. E com esse marido que já tinha outros filhos de outros relacionamentos. Minha avó ajudou a criar e depois viuvou-se. O seu segundo esposo morre de cirrose.
Minha mãe nasceu e foi prometida pela família a casar -se com seu primo, e deste relacionamento nasceu seus três primeiros filhos. E na verdade foram para o Cartório, teve discussões na hora e o casamento não se realizou-se. Meu pai era um homem de outras três famílias. Deixa pra lá esse assunto. Existem irmãos que não conheço.
Voltando a cena rápida do sonho, talvez no meu inconsciente, abri as portas que permitiram eu saber da rotina destas mulheres que seria a minha bem próxima ancestralidade. Mas não abri os quartos talvez por que neles estão guardados os segredos dos sonhos. O descanso das almas dos sentimentos mais íntimos das pessoas agora escrevo assim acreditando numa leitura espiritualista, que foge as interpretações materialistas ou psicanalistas dos seres humanos. E eu posso estar certo mas posso também estar totalmente errado. Pois o erro é inerente a todos os seres humanos.
Talvez nos sonhos na casa antiga não deparei com as outras pessoas que poderiam morar lá e que moraram, mas não tive essa lembrança pois não sou que determino o que devo ou não sonhar quando adormeço. E talvez as pessoas mais importante da minha vida eram aquelas duas mulheres.
Um dia lendo um poema de Solano Trindade chamado "As mulheres sonham com homens urbanos" ele que escreveu esse poema em abril de 1965. E dedicou o poema a um tal Mauricio do Vale. mas ele escreveu esse poema assim:
Eu acredito que todas as mulheres que nascem e são prometidas como prendas de quermesses, tem o mundo de seu lar. E desejam desposar para cumprir a saga de realizar-se numa família mas são iludidas tantos pelos homens brutos chamados da terra, quanto pelo aqueles urbanos de boas conversas. E talvez esse seja o segredo dos filhos que nascem o que vemos da solidão de tantas mulheres com os filhos nos braços. Mas esses são segredos que nós enquanto filhos ou netos não sabemos com profundidades. São os quartos que mesmo e sonhos resolvemos deixar fechados.
Manoel Messias Pereira
cronista
São José do Rio Preto -SP. Brasil
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