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Crônica - Nunca beijei nenhuma Lourdes - Manoel Messias Pereira

 




Eu nunca beijei nenhuma Lourdes


Em minha juventude escrevi uma carta ou algo assim e acabei ficando conhecido por aquilo que escrevia. Foi o momento em que meus textos ganhava as páginas dos jornais. E esses escritos talvez permitiu o sonho de alguém em conhecer-me. Talvez fosse mesmo a mensagem de paz e esperança que sempre trazia em meus textos.

E foi por isso que recebi um cartão postal vindo de Anápolis -GO, com o seguinte dizer no verso "o beijo é a canção linda que se faz sentir saudade do autor" e esse cartão foi assinado por uma moça chamada Lourdes.

Confesso sim que nunca beijei nenhuma moça que tenha chamado Lourdes, portanto não sou o autor que alguém como ela possa ter sentido saudade. Talvez esse beijo tenha sido apenas um sentido figurado, graças a minha caligrafia que modestamente sempre foi um show. Porém esse cartão postal foi exatamente a quase quarenta  e cinco anos. Porém recebi e guardo até hoje esse cartão.

Como fui músico de baile na época da jovem guarda, creio que alguém encontrou-me num baile. Porém nunca dançava pois era músico e tinha sempre que estar no palco. E por isto não sei combinar os meus passos com outros passos ou seja sou de uma época que precisava de uma certa sintonia, para que o quesito do romantismo pudesse ter êxito.

Enfim até dancei algumas vezes mas nunca tive aula de dança. Aprendi a balançar. E assim possibilitei talvez alguém de seguir os meus passos atrapalhados.

Quando criamos o Grupo de danças Tiê Terra em São José do Rio Preto- SP, lembro de uma amiga chamada Fatima Carozzi, que foi a diretora do nosso grupo que dizia, dançar é a razão para viver, na verdade todos dançam. Até o andar é uma dança necessitando sempre de um ritual, o ritual da existência. Assim entendemos que viver era dançar, sorrir era a dança da alegria surgindo nas bocas outras. Porém tive um professor de Educação Física, que chamávamos de Sr. Arruda que dizia que andar era marchar. E andar tinha o sentido de busca de destino e talvez da felicidade. Pois ninguém caminha consciente para o seu infortúnio, sua quotidiana tristeza e depressão.

Felicidade não é algo que se compra na esquina, por peças por quilo. Eu uma vez disse numa reunião uma frase de que a felicidade é apenas um ponta de expressão perdida num vazio contemporâneo em busca de um contexto social,

Portando sem que pudesse entender tudo  sabia d minha consciência social e por isto associei-me que marchar, caminhar aos atos de sofrer consciente. E buscar superação, juntar aos meus na mesma marcha em busca da felicidade. Assim fui caminhar, trabalhar, lutar, estudar, entrar em organizações sindicais, contrapondo tudo e a todos principalmente lutar em relação ao que eu entendo como luta de classe, e desde que eu saiba quais as dores da minha classe tenho sim que ter a responsabilidade de refletir sobreas necessidades básicas a curto, médio e longo prazo da classe trabalhadora. E em cada segundo busquei pensar na necessidade coletiva de minha humanidade e do povo que compartilha todos os dias as mesmas lágrimas pelo rosto, fruto da opressão, do desrespeito, do desamor e tudo aquilo que pode ser ruim para nós enquanto ser humano trabalhador. Sendo esse o princípio que permeia a minha existência.

E neste contexto danço a vida, usando do sorriso, da simpatia, do meu olhar, que muitas vezes falam coisas que as palavras sentem-se quase que incapaz de traduzir os sentimentos, o psicológico do povo, na sua verdade popular. E as vezes até mando um beijo para alguém na saudade, na ternura da existência, porém não podemos esquecer que o beijo, tão popularizado entre líderes políticos. No passado recordo do chamado beijo fraterno socialista dado entre Leonid Brejnev secretário geral da antiga e extinta União Soviética -URSS e o líder da Alemanha Oriental Sr. Eric Horneck, e na época da gestão de Michkail Gorbactchev vi o mesmo gesto repetir-se agora o beijo fraterno foi entre ele e novamente Horneck. Outros beijos que alias fez parte de uma campanha contra o ódio, e na ideia da reconciliação, liderada pela Unidet Color Of Benetton assim  vi o beijo capitalista de Barack Obama, presidente dos Estados Unidos da América e Hugo Chaves na época presidente da Venezuela, e há também o beijo de Barack Obama e o líder chinês Hu Jintao. Assim como líderes religioso como o papa Bento XVI, líder politico do Vaticano e responsável pela autoridade máxima da Igreja Católica, em beijos com a líder muçulmana Ahmed Mohamed el a chamada irmã do Cairo.

E quando tocamos no ponto religioso, vamos observar que na humanidade muito comentou-se pelas Igrejas cristã do beijo dado de Judas em Jesus Cristo. E esse assunto vamos encontrar no livro historia do Cristianismo de Ambrógio Donini, quando ele escreve sobre a morte e ressurreição de Jesus. Ele descreve que a morte de Jesus é rica em citações bíblicas, até em pormenores e as vestes do chamado Sol da Igreja Católica, e ele diz que tudo foi construído para demonstrar que na paixão iria se concretizar as profecias messiânicas do Antigo Testamento. Porém essas versões junta-se com outras aparentemente contrastantes, e o martírio de Jesus, não cai sobre os romanos e sim sobre os hebreus. 

Os evangelhos denotam a influência do período na qual as comunidades cristãs começam a distanciar-se ou melhor diferenciar das comunidades hebraicas de forma radical. Porém as acusações sobre Jesus eram políticas antes ainda de ser religiosa: Em 135 sob a ocupação romana Jesus comporta-se como "Rei dos Judeus" sobretudo após a derrota dos judeus. E ao colocar-se como rei dos judeus, isto foi considerado um gesto de rebeldia, passível de pena capital. Em primeiro lugar os Evangelhos Sinóticos dizem que Jesus foi capturado por uma multidão armada de espada e cacetes, enviadas pelos grandes sacerdotes, pelos escribas, pelos anciãos, expoentes das autoridades judaicas. Para o evangelista João a prisão de Cristo na época teve uma mobilização intensa foi aclamado e foi necessário o beijo da traição, para fazer com que reconhecesse e entregasse o aos carrascos. E em segundo lugar a figura do traidor um dos doze possuídos pelo Satanás. conforme escreveu Lucas XXII, 3. Judas dito Iscariotes que se entenderia verdadeiramente por esse nome, o nome Isch-Kariot, significa o home de Kariot mas tal localidade não existe, trata-se de uma tradução semítica extraída do latim "sikarius" nome dados ao Zelot. Donini afirma que esse é o eco de  desilusão devido a insurreição falhada? Ou estaremos em fase de um administrador corrupto como se afirmou e que conseguiu chegar ao caixa e foi atraído pelos 30 dinheiro. O importante salientar que o apóstolo traidor é o único que vem da Judeia os ouros todos são galileus. E sobre seu nome concentrou-se um áspero ressentimento contra os judeus, quando as duas correntes se separaram e começam a atirar toda a culpa em relação a morte do Messias. Porém para alguns teólogos, Judas tornou-se instrumentos da vontade divinas, para que se pudesse realizar-se o mistério da redenção. 

Mas o cartão da moça chamada Lourdes, em que há frase, o beijo é a canção mais linda que sentimos saudade do autor, com certeza não é aquele beijinho rosto de Judas em Jesus, mas outro tipo de beijo talvez mais sufocante , talvez de língua. Aquele que o parceiro ou parceiro suga a língua do outro até perder o folego. Mas se não for assim não sei. A única coisa é que confesso é que nunca beijei nenhuma Lourdes. Nem mesmo embriagado ou sóbrio.



Manoel Messias Pereira


professor, poeta, cronista
São José do Rio Preto- SP









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