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Crônica - A Libertação de Ângela Davis - Manoel Messias Pereira

 






A Libertação de Ângela Davis


Em 4 de junho de 1972  a ativista estadunidense Ângela Dais era libertada pelo Movimento de Solidariedade Mundial. E neste contexto é importante compreender toda a sua luta e toda a sua história.

Em  26 de janeiro de 2019, data essa que marcou os 75 anos da camarada Ângela Davis, ativista pelos direitos civis dos negros dos Estados Unidos, feminista, luta pela abolição da pena de morte, candidata a vice-presidência dos Estado Unidos da América de 1980 na chapa de Gus Hall do Partido comunista Americano. E prêmio Lênin da Paz 1977.

Atualmente ela é professora de filosofia da Universidade de Santa Cruz, que fica localizada entre São Francisco e Monterey na Califórnia. Filha de um professor de história e de uma mãe professora primaria participou da juventude comunista e iniciou a sua luta aos 12 anos em boicote contra os ônibus que mantinha a segregação racial. Na sua adolescência conheceu a discriminação racial, a injuria e isto é que provavelmente serviu para o seu fortalecimento e formação política.

Antes de falar sobre a sua luta política  é preciso lembrar que ela despontou-se, no período dos fim dos anos 60 e princípio dos anos 70, período que em 1968 vamos observar a grande revolta estudantil em Paris, quando os estudantes utilizando da frase do professor Jean Paul Sartre "é proibido proibir" começam a questionar o poder político e o ensino francês, um período em que despontam bandas de rock com como Rollins Stones e The Beatles, em que os temas sociais também foram cantados e colocados na pauta das mudanças no mundo, assim como a moda, os costumes, a utilização dos instrumentos elétricos eletrônicos, cantos pela Paz, contra a guerra do Vietnã. 

E neste período no Brasil havia instalado a ditadura militar desde 1964, o período de chumbo em que a violência, a tortura, assassinato eram os instrumentos do governo autoritário, que censurou música, livros, igrejas cristãs católicas e até protestantes, terreiros de umbanda, centros espíritas e neste contexto, tivemos um Festival de Música no Maracanãzinho em que o compositor Caetano Veloso que apresentou uma música chamada "é proibido proibir" a mesma palavra de ordem de Sartre, e que acabou ele e Gilberto Gil sendo-os convidados a retirar-se do Brasil, indo para o exílio em Londres. Já  a reorganização do Movimento negro se deu mais tarde no ano de 1978 com o Movimento negro unificado.

Enquanto isto Ângela Davis, a estudante da Universidade de São Diego na Califórnia, ficou encontrava nos Estados Unidos dois grandes movimentos o primeiro era a luta separatista, como os movimentos de Watts ou de Detroit, o segundo era o movimento liderado por Martin Luther King um movimento integracionista e que usava a linguagem religiosa. Ambas as lutas que não enquadrava-se ideologicamente com a visão de Ângela. Enquanto isto muitos negros diziam ser o marxismo uma doutrina dos homens brancos.

Essa colocação sobre o marxismo, foi a mesma utilizada pelo escritor Carlos Moore, quando ocorreu o debate com o professor Mauro Iasi no ano passado. Mas naquela oportunidade ficou bem evidenciado que o referido escritor foi e com certeza continua adepto aos princípios ideológico da Unita, que recebeu orientações capitalista para contrapor o MPLA que sempre teve uma orientação marxista-leninista, dentro de Angola.

Voltando a Ângela ela viu no marxismo a orientação necessária para a sua luta política. Entrou Black Panter que rejeitava o integracionismo assim como o separatismo. Esse grupo que foi criado por Bobby Scole e Huey P Newton dois estudantes de Oukland, um grupo de princípio pacífico chamado de pombo. Mas com influência de Malcon X aprendeu a endurecer para combater a violência dos brancos adotaram "Panteras negras".

E em agosto de 1970 na luta pelos presos da prisão de Soledad na Califórnia, ocorreu um fato em que um dos presos mata o juiz Harold Harley, e acusaram -a, de forma a estabelecer que a arma era de Ângela. e assim começou a caçada a ela e nisto prenderam 100 mulheres parecida com ela ou seja com os cabelos black power que era muito comum entre os negros.

O FBI, coloca numa lista das mais procuradas e ela acaba sendo presa em janeiro de 1971, período em que ela sofreu, humilhações, enquanto que um movimento por sua libertação começou a ocorrer, e os artistas passaram a propagar sobre a sua inocência, o poeta Jacques Prévert publicou um texto e um choro "Ângela sua prisão escuta/sem poder ouvi-las/e talvez sorrindo/as canções de seus irmãos de fé/de risos e de dor/e os refrões engaçados das crianças do gueto/Aqueles que enclausuram os outros/sentem o enclausurado/aqueles que estão enclausurados/sentem a liberdade.

Em Londres Mick Jagger e Keit Richards cantam assim "Tem um doce anjo negro/Tem um pin-up/Tem um doce anjo negro/pregado na minha parede/ela não é uma cantora e nem estrela/uma  garota está presa/e não há ninguém para libertá-la" E Yoko Ono escreveu "Irmã você é a professora do povo/irmã sua palavra chega longe/Existem milhares de raças para todos nós dividiremos o mesmo futuro." Em em 1972 ela é considerada inocente e ganha a liberdade. E por isto o Movimento de Solidariedade Mundial conseguiu libertá-la.

Um filme de Sholo Lynch "Libertem Angela" com Ângela Davis  e Eisa Davis um documentário.

Como uma boa marxista ela sabe que a luta sempre continua, pois na vida temos o materialismo histórico dialético em que da tese versus a antítese surge a síntese e assim é a vida, não há modelo a seguir e nenhum momento é igual, ao outro e que nada está acabando e sempre numa constante transformação filosoficamente sabe que a água que passa pelo rio hoje, não é a mesma que passou ontem e não será a mesma a água que passará amanhã.




Manoel Messias Pereira

professor de história, Estudos Sociais
membro do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de São José do Rio Preto
membro do Coletivo Negro Minervino de Oliveira - são Jose do Rio Preto -SP. Brasil




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