Pular para o conteúdo principal

Artigo - Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha -vida e obra - Manoel Messias Pereira

 








Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha – vida e obra

 Manoel Messias Pereira. 

membro do Coletivo Negro Minervino de Oliveira


Oduvaldo Vianna Filho (Rio de Janeiro RJ 1936 – idem 1974). Autor e ator. Participante ativo do Teatro de Arena, fundador do Centro Popular de Cultura da UNE e do Grupo Opinião, Oduvaldo Vianna Filho personifica a trajetória de uma luta contra o imperialismo cultural. Sua dramaturgia coloca em cena a realidade brasileira através do homem simples e trabalhador, sendo unanimemente considerada a mais profícua de sua geração, com textos como Chapetuba Futebol ClubePapa Highirte e Rasga Coração. Filho do importante dramaturgo Oduvaldo Vianna, passa a ser chamado de Vianinha pela classe teatral e a imprensa.

FOTO 1 – Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha. Ano desconhecido.

Cursa a Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie até o terceiro ano. Suas primeiras experiências no teatro são como ator no Teatro Paulista do Estudante, TPE, dirigido por Ruggero Jacobbi, em 1955, atuando em várias produções – entre elas Rua da Igreja, de Lennox Robinson e O Rapto das Cebolinhas, de Maria Clara Machado. Ingressa no Teatro de Arena de São Paulo em 1956 e atua em A Escola de Maridos, de Molière, e em Dias Felizes, de Claude André Pugget, com direção de José Renato; Só o Faraó Tem Alma, de Silveira Sampaio, Marido Magro, Mulher Chata, texto e direção de Augusto Boal, Juno, o Pavão, de Sean O’Casey – em que ganha o Prêmio Saci de ator coadjuvante, e Enquanto Eles Forem Felizes, de Vernon Sylvain, todas em 1957. No ano seguinte, escreve a peça Bilbao, via Copacabana. Em 1958, atua em Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri. O espetáculo, que marcaria o encerramento das atividades do Teatro de Arena, se vê diante de sucesso tão inesperado que o grupo decide apostar na linha inaugurada pelo texto de Guarnieri.

Surge, ainda em 1958, o Seminário de Dramaturgia, para incentivo da criação de textos voltados à realidade brasileira. Ao mesmo tempo em que participa do Seminário, Vianinha trabalha nos espetáculos produzidos pelo grupo. Em 1959, estréia Chapetuba Futebol Clube, primeira peça fruto das discussões do Seminário. Com diálogos diretos e ágeis, Vianinha se serve das relações entre os jogadores de futebol tratados como mercadoria para falar da realidade brasileira e do problema da solidariedade social diante da busca de sucesso individual. Driblando o didatismo ideológico do Seminário, o autor dá vida e verossimilhança aos personagens e à trama. Com esse texto, recebe os primeiros prêmios de dramaturgia: Governador do Estado e Associação Paulista dos Críticos Teatrais, APCT.

FOTO 2 – cena da peça “Eles Não Usam Black-tie”. Ano desconhecido.

Identificado com o movimento operário que, em todo o país, faz surgir organizações sindicais na cidade e no campo, com reivindicações econômicas e políticas, Vianinha cria um elenco para percorrer sindicatos, escolas, favelas e organizações de bairro. Para esse elenco escreve, em 1960, A Mais-Valia Vai Acabar, Seu Edgar, que marca a estréia do Teatro Jovem. O texto mostra ao público a lógica da exploração capitalista. Dessas atividades surge o o Centro Popular de Cultura da UNE – CPC, órgão cultural da União Nacional dos Estudantes – UNE, que, com o objetivo de conscientizar o público por meio do “teatro revolucionário”, acaba estendendo suas atividades a outras áreas artísticas. Vianinha se afasta do Arena, entusiasmado com a capacidade do CPC de mobilizar grande número de ativistas, intelectuais e estudantes, e alcançar um grande público. Escreve várias peças curtas, entre elas Brasil Versão Brasileira. Em 1962, atua no filme Cinco Vezes Favela, também produzido pelo CPC, no episódio dirigido por Cacá Diegues. Em 1963, escreve Quartos Quadras de Terra, pelo qual recebe o Prêmio Latino Americano de Teatro da Casa de Las Américas, de Havana. Em 1964, com o golpe militar e a extinção do CPC, participa da fundação do Grupo Opinião, que se dedica à arte de protesto. Escreve, com Armando Costa e Paulo Pontes, o show Opinião, encenado no mesmo ano. Paralelamente começa a escrever para teleteatro. Em 1965, atua em Liberdade, Liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel. Escreve, com Ferreira Gullar, um dos primeiros textos representantes do teatro de resistência, Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, com Ferreira Gullar, participando também como ator do espetáculo, encenado em 1966. O Bicho, resultado dos debates internos do grupo, recorre à fantasia da literatura popular, à festa e à vitalidade para tentar “desenhar o impasse entre o ser real e a vontade de ser das pessoas da realidade brasileira”. A peça recebe o Prêmio Molière, no Rio de Janeiro, e os Prêmios Saci e Governador do Estado, em São Paulo. Ainda em 1966, ganha menção honrosa com Os Azeredo mais os Benevides, que aborda o problema dos trabalhadores rurais sem terra, texto que, no ano seguinte, ganha o concurso de dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro – SNT. No mesmo ano, escreve o show Telecoteco Opus n. 1, em parceria com Teresa Aragão, que o encena no Grupo Opinião. Em 1967 escreve Meia Volta Vou Ver, que é dirigido por Armando Costa.

FOTO 3 – Casamento entre Vianinha e Vera Gertel ao lado dos padrinhos Gianfranesco Guarnieri e Mariuzza Vianna (casal à esquerda) e Joaquim Câmara Ferreira e Leonor (casal à direita). Dezembro de 1957.

1968 é um ano intenso de atividades: atua em A Saída, Onde Fica a Saída?, de Antônio Carlos Fontoura, Armando Costa e Ferreira Gullar, com direção de João das Neves; escreve Dura Lex Sed Lex No Cabelo Só Gumex, que é dirigido por Gianni Ratto; ganha o primeiro lugar no Concurso de Dramaturgia do SNT por Papa Highirte, que é imediatamente censurada; redige também o artigo Um Pouco de Pessedismo Não Faz Mal a Ninguém, em que conclama os artistas e intelectuais de teatro a relevar divergências estéticas e se unir contra o inimigo político. Desliga-se, com Paulo Pontes, do Opinião e funda, com outros autores cariocas, o Teatro do Autor, que, sem ser um grupo formal, subsiste até 1973, com certa independência em relação a grupos de produção.

No período de maior repressão política, Vianinha se afasta do teatro popular e começa a escrever peças em que o protagonista de classe média – um jornalista, como em A Longa Noite de Cristal, ou um publicitário, como em Corpo a Corpo – se vê encurralado pela situação social. Ao ser encenada pelo diretor Celso Nunes, em 1970, A Longa Noite de Cristal recebe o Prêmio Molière. O monólogo Corpo a Corpo é dirigido por Antunes Filho (que dirige também Em Família, dois anos depois), com o ator Gracindo Júnior, em 1971.

FOTO 4 – Faixada do Teatro de Arena, São Paulo. Ano desconhecido.

Produz teleteatro e adaptações de peças para a TV, como MedéiaNoites BrancasA Dama das Camélias (com Gilberto Braga), Mirandolina e Ano Novo, Vida Nova. Em 1973, escreve o seriado para a TV A Grande Família, com Armando Costa. Aos 38 anos, Oduvaldo Vianna Filho morre sem ver encenadas suas duas obras-primas censuradas. Papa Highirte, escrita em 1968, só é montada onze anos depois. A peça humaniza um herói negativo, um ditador, abordando-o, no fim da vida, exilado, e com esperanças de voltar ao poder. As últimas páginas de Rasga Coração são ditadas no leito de morte. A peça, que, como Papa Highirte, ganha o primeiro prêmio no concurso do SNT, e é imediatamente censurada, trabalha com uma multiplicidade de planos, que alternam tempos, espaços e personagens distintos, para falar da psicologia e das relações familiares de três gerações, de Getúlio ao Golpe Militar. Em 1984, Aderbal Freire-Filho encena Mão na Luva, apaixonado relato de amor, escrito em 1966, só descoberto anos após sua morte. Parceiro e amigo de Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes escreve sobre a importância do pensamento e da ação de Vianinha para a década de 60: “… toda a vastíssima produção cultural saída desse período particularmente feliz da cultura brasileira, quando a melhor energia criadora do país se unia aos interesses sociais mais legítimos do povo, recebeu, de alguma forma, o sopro da inteligência criadora de Oduvaldo Vianna Filho. Eram dezenas de peças, peças curtas, filmes, espetáculos de rua, shows, debates e conferências nascidos da perspectiva de que o intelectual do país subdesenvolvido tem que refletir e criar sobre as condições reais da existência do povo. E, sem dúvida, Vianna foi o grande arquiteto dessa perspectiva, em sua geração, pensando e criando, discutindo e organizando, prevendo e estimulando”.






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fatos Históricos, politicos e sociais do dia 7 de junho - Art & Conscientia

  Em7 de junho de 1494- O Tratado de Tordesilhas é assinado entre Portugal e Espanha dividindo entre si o novo mundo. É neste mapa foi como ficou o Tratado, uma vez que esse mapa é o de Alberto Cantino e que foi feito em 1502. Por meio da copilações (método rudimentar dos mapas medievais) que inclusive já registrava o Brasil, 172 anos da posse portuguesa que para cá enviou Pedro Alvares Cabral em 1500. Em 7 de junho de 1692 - Em Port Royal na Jamaica é atingido por um sismo catastrófico em apenas 3 minutos morreram 1600(Um mil e seiscentas) pessoas e 3000 (Três mil) ficaram feridos. Em 7 de junho de 1839 nasce Tobias Barretos, escritor brasileiro, filósofo, poeta. Falecido em Recife em 26 de junho de 1889 Em 7 de junho de 1908 -O papa Pio X, por meio da Bula Diocessium Nimiam Amplitudinem, cria as dioceses paulistas de Ribeirão Preto, São Carlos, Botucatu, Campinas e Taubaté. O povoado de são José do Rio Preto passa a pertencer a diocese de são Carlos, tendo como bispo diocesano D...

Fatos Históricos, Políticos e sociais do dia 4 de agosto - Art & Conscientia

  Em 4 de agosto de 1578 - Falece  em Alcácer- Quibir no Marrocos, D. Sebastião I, o rei de Portugal, apelidado de "O Desejado" e o "O adormecido" rei de Portugal e de Algarves de 1557 até o seu desaparecimento. Era filho de João Manuel príncipe de Portugal e de Joana da Áustria, ascendeu ao trono muito ovem com a morte do seu Avô D. João III, e no Brasil até hoje manteve-se o imaginário da volta de D. Sebastião, o que chamamos em história e na literatura de "dom sebastianismo" um sentimento quase que irreal. Nesta mesma Batalha morre também o sultão do Marrocos Abu Marwan Abd al Malik Saadi, que havia herdado o trono de seu sobrinho Mulei Mohammed que havia refugiado em Portugal e arrastou o seu primo D. Sebastião embora as forças de Mulei, que é conhecido como Mulei Maluco, venceram faleceram os três reis da o nome da Batalha dos Três Reis que não deixou descendência por isto na história do  Brasil tivemos a presença de D. Felipe I o que chamamos de Bras...

Fatos Históricos, Políticos e Sociais do dia 12 de junho - Art & Concientia

  Em 12 de junho de 1817 -Falece em Salvador -BA, Domingos José Martins, executado por fuzilamento pelo crime de Lesa Majestade, era um comerciante de ideias liberais, que defendiam negros e mestiços, um dos revolucionário da Revolução Pernambucana. Ele que nasceu em Sitio Caxangá em 9 de maio de 1781. Em 12 de junho de 1817 em Salvador -BA, o padre Miguelinho como ficou conhecido Miguel Joaquim de Almeida Castro, revolucionário da Revolução Pernambucana, foi morto com perfuração a bala. Ele que nasceu em Nata-RN em 17 de setembro de 1768. Em 12 de junho de 1850 nasce Robert Ivins, explorador português na África , filho de pai inglês e mãe açoriana. Prestava serviço ao estado colonial. Em 12 de junho d 1865 - Falece o marinheiro Marcílio Dias da esquadra real no Brasil, a borda da Corveta. Na cidade de São José do Rio Peto - SP, o seu nome foi lembrado, numa das primaveras associações da comunidade Negra, organizada pelo Griot Sr. Aristides dos Santos (militante do Movimento Negr...