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Crônica - 71 anos do assassinato de Catarina Eufémia - Manoel Messias Pereira

 




71 anos do assassinato de Catarina Eufémia




Catarina Efigênia Sabino Eufémia, tinha apenas 26 anos três filhos e ainda estava grávida de um quarto, ela carregava o filho no colo, a esperança de um trabalho que pudesse ter um salário capaz de sustentar a sua família. E era uma ceifeira pobre, quase analfabeta, era do Movimento de Luta pela terra, embora era  membro do Partido Comunista Português, segundo a comunista Mariana Janeiro, não havia suspeita que ela era comunista, e ela naquela hora não estava a serviço do partido e sim  tinha a consciência de classe aflorada. Quando foi assassinada trazendo no colo seu filho de apenas oito meses, que caiu ao solo ao ser baleado pelo tenente João Tomaz Carrajola da GNR. Seu menino de oito meses se feriu e ela e a criança da qual já estava gravida morreram.

Causas desta trágica realidade que ocorreu em Baleizão em Beja, no dia 19 de maio de 1954, quando a luta  das trabalhadoras rurais que entram em greve, pois reivindicavam aumento de 16 escudos para 23 escudos um aumento de salário pois o que ganhavam mal garantia  a sobrevivência destes trabalhadores. E os patrões recusavam a aceitar as reivindicações. E resolveram contratar outros trabalhadores de outras regiões para de fato furar a greve que estava em curso. E quatorze trabalhadoras foram até esses trabalhadores no sentido de manter um diálogo. Porem a PIDE - Polícia Internacional em Defesa do Estado, como era conhecida a policia politica salazarista, acompanhava de perto assim como GNR que havia comparecido ao local e resolveram interpelar essas mulheres e questionou-as, o que elas queriam. E a resposta de Catarina foi de que queria pão e trabalho, porém isto para o tenente foi considerado um insulto ou resposta insolente e ele lhe deu três tiros a queima roupa. Catarina cai ao chão ensanguentada uma vez que trazia no colo o seu filho. E o seu patrão Sr. Francisco Nunes, falou "o senhor já matou uma mulher" levantando-a do solo aquela mulher de apenas 1,65, que em seguida veio a falecer ela e o filho que estavas no bendito ventre.

As autoridades fizeram a autopsia, e resolveram fazer um funeral as escondidas, mas o povo não permitiu, foi para cima do caixão com gritos de protestos e as forças policiais reprimiram a população assim como os familiares da morta e outros trabalhadores rurais. A morte comoveu o país apesar da censura sobre a imprensa. O caso ganhou repercussão e serviu para os trabalhadores construir a sua resistência.

O Partido Comunista Português - PCP, reconheceu Catarina Efigência Sabino Eufémia , como ícone da resistência no Alentejo e mártir desta luta. Grandes escritores dedicaram seus poemas a ela entre as quais Sophia de Mello Breyner, Carlos Aboim Inglês, Eduardo Valente da Fonseca, Francisco Miguel Duarte, José Carlos Ary dos Santos, Maria Luisa Vitão Palma. E o poema de António Vicente Campinas "Cantar o Alentejo" escrito em sua homenagem foi musicado por Zeca Afonso num álbum que levou o nome de Cantiga de Maio" e foi editado no Natal de 1971.

Num fragmento  da obra da poetisa Sophia de Mello Breyner escreveu "Tinha chegado o tempo/Em que era preciso que /alguém não recuasse/E a terra bebeu um sangue duas vezes puro/Por que eras a mulher e não somente a fêmea/Eras a inocência frontal que não recua."

E assim é a trágica história desta líder ceifeira, nascida no Baleizão em Beija em 13 de fevereiro de 1928 e imortalizada, por sua luta, para toda a eternidade uma vez que a sua morte, foi fonte de resistência. E sobre isto tenho um fragmento tão bem escrito por Carlos Aboim Inglês "Teus destinos Catarina/ Não findou sem renovo/Tiveram morte assassina/Hão de ter vida de novo/Na semente que germina/dos destinos do teu povo,/E na noite negra, negra,/do teu cabelo revolto/nasce a manhã do teu rosto/nos teus olhos postos. "Ela não morreu eternizou-se num período de ceifa de trigo, o mesmo que faz pão e o trabalho de suas últimas palavras.

Catarina Efigênia Sabino Eufémia do PCP presente, presente agora e sempre. Presente.

Manoel Messias Pereira


professor de história, poeta e cronista
São José do Rio Preto- SP. Brasil
Membro do Instituto Histórico , Geográfico e Genealógico de São José do Rio Preto -SP
Membro do Coletivo Negro Minervino de Oliveira -São José do Rio Preto- SP
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB.







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